sexta-feira, 4 de março de 2016

Carta a um ex-companheiro

Lula, aqui escreve um filho da elite que deu errado. Já vieste aqui em casa, antes da presidência, tomar café com o conservador do meu pai. Não acredito mais muito em ti, mas não esquenta, não vou dar munição para a direita. 

Antes, porém, preciso dizer que a política perdeu muito o significado para mim. Fui filiado dez anos ao PT e desde o ano passado passei para o PSOL porque entendo que seria incoerência migrar para qualquer outro partido que não fosse PSOL, PSTU, PCO, PCB... (acho que são esses). Só que a política é divisionista e tenho preferido gerar algum benefício aos seres de um outro modo. Não necessariamente com o meu trabalho, de jornalista, num meio de comunicação tradicional. 

Sei que há causas e circunstâncias que podem fazer de qualquer um de nós um ladrão, um estuprador, um traficante etc. Acho hilário ver até familiares meus te apontando o dedo enquanto roubam sinal de TV fechada, que também é crime federal. Teu eventual crime e o deles só muda de proporção, mas a (má) motivação parece ser muito semelhante. 

Vou aguardar o desfecho da investigação do Moro. Não alimento grandes esperanças de que sejas decente. No entanto, isso não me faz ir de arrasto com o pensamento “comum” de que você e o PT são os males do País. O “problema” não são as instituições; são as pessoas. Atualmente acredito que a transformação do mundo se dará um a um; não pela imposição de um sistema. 

No mais, torço que nosso País melhore; que a humanidade melhore — seja lá em que aspecto for. Ainda pensando politicamente, e apesar de estar tentando me afastar de rótulos, não tenho dúvida de que a saída continua sendo pela dita esquerda. Sigo aguardando uma orientação do meu novo partido sobre como me portar diante da tua condução coercitiva. Sei lá se te prenderão, o que vai acontecer. Mas saiba que não negligencio o ódio da mídia tradicional; a acefalia da classe média (mais um carma!); o oportunismo da atual (pífia) oposição.

Espero logo abandonar a militância política. Mas tinha que te dizer essas coisas. Não cuspo no prato que comi. Respeito o PT. Aprendi muita coisa legal com vocês. Essa foto na qual apareço protestando é de mais de dez anos. Aprendi firmeza ideológica, de caráter no PT. Aprendi a defender determinadas coisas e a rejeitar outras. Hoje em dia, porém, só não tenho mais tanta certeza se tu, nossa liderança petista mais popular, segue fiel às teorias ensinadas nos cursos promovidos pelas secretarias de formação do partido. 

Saudações de um ex-companheiro.


Crédito: reprodução jornal A Notícia/arquivo pessoal

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